sexta-feira, 6 de junho de 2008

É do Karalho



Quando o chapa Ricardo Alexandre (www.causapropria.blogspot.com) terminou o livro Dias de Luta disse, numa daquelas previsíveis tardes em que não sabíamos se a Bizz ia continuar a circular, que sua banda favorita dos anos 80 era a João Penca e Seus Miquinhos Amestrados. Desconfei que fosse um truque esperto, uma maneira de não se comprometer com a "década perdida" e suas bandas que copiavam o rock inglês - o que nem era demérito, ou você acha que um grupo de samba japonês vai criar do nada seu telecoteco? É recurso jornalístico apelar para o esculacho. Mas a verdade é que ele realmente conhecia as músicas e os causos do grupo. Isso me fez pensar em qual seria o meu "mico" da época. Gostei da Blitz (tinha 11 anos), do RPM (uns 13), dos Inocentes e da Patife Band (14), mas nenhum sob uma "perspectiva histórica".
Mais tarde, observando as fotos do Edu K na Austrália, em seu MySpace, me ocorreu que o DeFalla foi a banda mais interessante daquela década. Num tempo em que ainda se dava importância para guetos e tribos, a banda gaúcha utilizava zilhões de referências, do pós-punk ao hip hop, surpreendendo e até desagradando muitas pessoas. E esse é um ponto importante: se havia quem lutasse contra o sistema ou as gravadoras ou as rádios, o DeFalla atacava seu próprio fã, era contra o próprio público. Não lembro de outra banda que tivesse feito isso. Bem lembrou o Zé Flávio: no show de reunião em 2006, com Biba Meira na bateria e Flu no baixo, Edu K disse que finalmente estava vendo os fãs da banda felizes, afinal estavam ouvindo os clássicos. Diferente dos shows "normais" (com Edu no palco isso não acontece. Ponto), em que o repertório era totalmente estranho ao disco que estava nas lojas. O grupo sempre esteve dois passos à frente dos colegas conterrâneos - e um atrás dos gringos - em apontar as tendências. E tudo com um humor sádico e escroto que, não tenho como teorizar muito - é pura sensação -, remete aos Mutantes. E hoje, o Edu K (e seus remixes, batidões, turnês no exterior e parcerias) é o único artista do rock brasileiro dos anos 80 que continua relevante e está conectado com a nova ordem musical. Falamos sobre isso no podcast Qualquer Coisa, do Zé e do Terron, mas não sei se durante a gravação ou nos "bastidores" (uma sala zoada com uma tábua de passar roupa como mesa não pode ser outra coisa que "bastidor". Mal aí, Terron.).