sexta-feira, 18 de abril de 2008

Divisão da dor

A dor é de cada um - e não de todo mundo. Populares cantam "Parabéns" para a garota morta. Mas são palmas para um defunto. As lágrimas pela garota morta, estas, não estão na tela da TV. O desfecho de qualquer coisa causa comoção: do final da novela, do BBB, do caso da garota morta. Uma pedra arremassada contra o casal, acerta o delegado. Página do orkut (acusado de favorecer a pedofilia neste país muito sério) sobre a garota morta, é exibida, bem como imagens dela dançando. Amiguinhos da garota morta falam da garota morta. "Ela era legal", diz um, cerca de cinco anos. Repórter bem mais velho do que isso acha que cumpriu sua missão. Não há notícia, só a expectativa pelo desfecho do caso da... vocês sabem. A garota morta faria aniversário hoje, e populares, entre eles um cover do Bin Laden, cantam "Parabéns" para um defunto. Pixadores escreviam "Justiça" no muro da casa do avô da garota morta quando a polícia os flagrou e os puniu. Justiça. Está tudo errado. Promessa de que "ela não será esquecida", conforta os populares. O medo de que a dor seja deles, faz com que tomem um naco da dor do outro. Mas a dor pela garota morta, esta, não está na tela da TV. Ela não é de todo mundo, diferente da garota morta que ganha palmas dos populares. O desfecho se aproxima. Parabéns para todo mundo. Pêsames para os que não estão na tela da TV e cuja dor, a intimidade negra de cada um, foi dividida.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Enquanto Jesus não volta


Fiquei sabendo pelo Alexandre Matias, que leu na coluna do Thiago Ney. Bem, todos os interessados sabem: é provável que o Jesus and Mary Chain retorne em novembro. Eu vi a banda em 1991, no Projeto SP - uma microfonia desgraçada, luzes estrobo irritantes e um clima de tensão entre os Reid. Um show do caralho, enfim. Fuçando no YouTube, encontrei essa apresentação em Oslo, no ano passado. A performance nem é grande coisa - e o local parece a Praça da República com gente também feia, mas daquele tipo meio desdentado, narigudo, loiro e sem vida comum na Europa. Mas tem algumas garotas meio caídas que tem o seu charme. Foda é o câmera insistir em dar closes no contrabaixo. Deus, no contrabaixo! Quem se importa? Vale pela qualidade da filmagem, que deve ter sido transmitida por alguma emissora de TV local.
- All Things Must Pass: melhor do que a participação no Letterman em maio de 2007.
http://www.youtube.com/watch?v=AkcPoy5Wvv8
- Blues for a Gun: aqui eles estão meio desanimados (o baterista parece eu no The Books, cansadão e à beira de perder o ritmo).
http://www.youtube.com/watch?v=VbD6SOd9QnU
- Head On: do irregular Automatic, salva pela cover dos Pixies. Eles erram na introdução, mas depois tudo se acerta. Mas a guitarra está baixa, baixa.
http://www.youtube.com/watch?v=EELlsjkeuvo&feature=related
Aí, a gente pensa: quem será o primeiro jornalista pentelho que vai falar da barriga do William? Que história é essa que gordura não tem nada a ver com rock? E o Elvis? Essa turma dos cadernos de cultura deve sentir um imenso prazer em esculachar a aparência de roqueiros de meia-idade. Só pode ser porque ela costuma ser feia e/ou freak pra cacete - fico imaginando alguns desses caras na adolescência.
E não esqueça que a TV é a imagem da Besta.