sexta-feira, 18 de abril de 2008

Divisão da dor

A dor é de cada um - e não de todo mundo. Populares cantam "Parabéns" para a garota morta. Mas são palmas para um defunto. As lágrimas pela garota morta, estas, não estão na tela da TV. O desfecho de qualquer coisa causa comoção: do final da novela, do BBB, do caso da garota morta. Uma pedra arremassada contra o casal, acerta o delegado. Página do orkut (acusado de favorecer a pedofilia neste país muito sério) sobre a garota morta, é exibida, bem como imagens dela dançando. Amiguinhos da garota morta falam da garota morta. "Ela era legal", diz um, cerca de cinco anos. Repórter bem mais velho do que isso acha que cumpriu sua missão. Não há notícia, só a expectativa pelo desfecho do caso da... vocês sabem. A garota morta faria aniversário hoje, e populares, entre eles um cover do Bin Laden, cantam "Parabéns" para um defunto. Pixadores escreviam "Justiça" no muro da casa do avô da garota morta quando a polícia os flagrou e os puniu. Justiça. Está tudo errado. Promessa de que "ela não será esquecida", conforta os populares. O medo de que a dor seja deles, faz com que tomem um naco da dor do outro. Mas a dor pela garota morta, esta, não está na tela da TV. Ela não é de todo mundo, diferente da garota morta que ganha palmas dos populares. O desfecho se aproxima. Parabéns para todo mundo. Pêsames para os que não estão na tela da TV e cuja dor, a intimidade negra de cada um, foi dividida.

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