quinta-feira, 27 de novembro de 2008

MC Mimadinho


Existem três maneiras de você gostar de rap: Dr. Dre, Timbaland ou Kanye West. Comecei a ouvir o gênero com atenção em 1986 e confesso que foi o clipe de "Fuck with Dre Day" que me fez comprar CDs do gênero. Ok, já havia Run DMC e Public Enemy, mas aquela malaquice toda, a cara de pau e a caricatura da violência do Dre me divertiram muito. O rap da Califórnia me agrada mais do que o de Nova York, que é técnico, virtuoso, tradicional, cerebral... Me dê uma canção sobre maconha e biatches e já estou felizão. Bem, o Timba tem como mérito levar o gênero para as pistas de dança badaladas, o povo bonito e que curte a vida. Já o West... gosto de Late Registration mas não estou falando exatamente de música aqui. É que percebi que muito nego curte o cara por uma suposta "inteligência" ou nerdice, que faltaria no cenário. Coisa de identificação, saca? Se alguém desse trio tem bonequinhos de Star Wars, é o West, claro. Lembrei disso ao ler o post no www.oesquema.com.br/trabalhosujo, do chapa Matias, sobre o pití do babaca ao perder para o Justice na premiação da MTV européia. Gente com aquele queixo pra frente não me engana.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O irmão daquele cara

ainda na carona do Planeta Terra. Não faltaram comentários sobre o desempenho da repórter, mas, na boa?, isso me parece normal. Música pop no Brasil é coisa de especialista. E gente chata. Infelizmente. E ninguém parece ter se dado conta de como os irmãos Reid estão simpáticos - para o padrão Reid, é claro. William até comenta: "não sei se isso é uma pergunta, mas..." e fala genericamente sobre Psychocandy. Mais sobre William: é uma das figuras mais interessantes, reclusas e incompreendidas que o rock produziu. Dê uma olhada em trechos de algumas letras de sua autoria em Munki, por exemplo:

Elvis lives and Bob Dylan is dead
And OJ's wife's crawling back from the dead
Love is great
Oh yeah love is good
And my bed friend thinks that love is food

God is great
Oh yeah God is good
And my friend Ben thinks that beer is food ("Fizzy")

I love Beatle John
She loves Beatle Paul
We don't hate the rest
We can love them all
And the way I kissed has gone and messed my life ("I Can't Find the Time for Times")

Sem a música elas perdem a força, mas são belíssimos achados. Bem ali, no limite entre a genialidade e a debilidade. Pendendo para a segunda.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Jesus voltou


A palavra é ruim e nada rock'n'roll, mas o termo para o show do Jesus and Mary Chain no Planeta Terra é "digno". Parece coisa de quem apenas não fez feio, mas significa muito para uma banda identificada com os anos 80 e que pretende ir além da mera turnê de reunião. Ainda distante do classic rock de um Stones, ela trouxe um alento para quem viu suas apresentações no Brasil em 1990 - trintões e calvos como eu. Faz sentido ainda gostar da banda e esperar pelo novo disco. A postura quase antipática no palco (Jim agradeceu pelo menos três vezes, um recorde pessoal) não é marra de banda nova - ao contrário, casa muito bem com as marcas no rosto do vocalista e a pança de William. O "rock sorriso", das boas causas, que aperta a mão dos grandes líderes mundias não tem vez com a dupla. O pessimismo e a depressão junkie das letras (o nome da ótima caixa de raridades The Power of Negative Thinking é um achado) são convincentes. Nada de gracinhas, estripulias, sorrisos do tipo "veja como sou bacana com vocês" ou pulseirinhas coloridas de ONGs. O número de fãs do Offspring surpreendeu tanto quanto o cabelo ridículo de seu vocalista, mas a banda dos irmãos Reid certamente ajudou a vender um bocado de ingressos. Animal Collective? Pfffff.
A banda escolheu "Snakedriver" para abrir a apresentação. Se não foi um hit em seu tempo, tem um clima bem adequado para separar o que havia sido Mallu Magalhães no palco (um festival de música do colégio Objetivo?) do que seria um show de rock amargo, sem tchubaruba. "Head On" também funcionou ao vivo e tem a aprovação dos Pixies, o que ajuda bastante entre o público indie brasileiro. Mas incluir mais três músicas do mediano Automatic ("Between Planets", "Halfway to Crazy" e "Blues from a Gun") foi um despropósito. A possível explicação é o fato de o show em 90 ter sido parte da turnê do albúm. Psychocandy foi quase ignorado ("Just Like Honey" era uma aposta óbvia, "You Trip Me Up" e "Never Understand" mereciam lugar no set list), "April Skies" não deu as caras e a pegada mais dançante de Honey's Dead foi privilegiada, inclusive no single "Sidewalking". Do álbum Munki (que coloco em segundo lugar em qualidade na discografia do Jesus) veio "Cracking Up". Entre as novas, "All Things Must Pass" se confirmou fraca, arrastada; "Kennedy's Song" é bem mais interessante e dá esperanças de um novo disco longe do vergonhoso. O volume estava baixo, especialmente no início do show, o que tirou bastante de seu impacto, mas era fácil conseguir um bom lugar para vê-lo. Com relação ao telão, nada a reclamar no quesito tecnologia. A falha foi humana mesmo: a equipe do Terra simplesmente ignorou William Reid, posicionado no canto direito de quem assistia. A bela foto do post é do camarada Marcos Hermes.
Se teve nostalgia? Mas é claro que sim. A memória afetiva é um seguro de vida para a música pop e uma bela aposentadoria para seus artistas. E confesso ter visto o show na condição de fã - afinal, não estava lá a trabalho. Esteja atrás de uns trocados ou de uma chance de terminar a carreira de modo menos traumático (difícil imaginar que eles gravem mais dois ou três discos de inéditas), o Jesus provou que sua obra é consistente e relevante para além de Psychocandy - no outro "extremo", eles lançaram o ótimo Munki. Nada de novos arranjos, um teclado para fazer a "cama", backing vocals (ei, ver a Scarlett Johanson não seria nada mal!), improvisos, "inteligência" e erudição. A urgência que a banda evocava em 1984 foi ganhando amargor e pessimismo. O Jesus cresceu com seu público, ainda busca por redenção e produz bem a partir de poucos recursos e limitações técnicas.