sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Máximas de quem não dá a mínima


O feriado prolongado é o rehab do workaholic.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pussy power

Aos 85 anos, Bettie Page está internada, depois de sofrer um ataque cardíaco. O estado é grave. Se tivessem um pingo de libido, as feministas xiitas derrubariam uma lágrima. Poder feminino também é isso aí ao lado. Ou não?

O tempo é implacável


"Meu coração quer, mas o corpo não responde."

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Na medida


O primeiro disco é perfeito. O novo promete. Lily Allen não é diva, não é musa, não é Madonna nem Cat Power. Que bom. Peguei o vídeo do Matias (www.oesquema.com.br/trabalhosujo)

Ectoplasma


Às vezes não funciono direito
Nem um Bombril na cabeça dá jeito.
Um tapa parece resolver por um instante
Mas fica tudo chuviscando como antes.

Você liga e eu fico
Você desliga e eu fico

Muda o canal, é a mesma porcaria
tudo igual, programação vazia.
O áudio some e você fica puta
não entende a série, o filme, o curta.

Melhor sair e tirar a angústia do peito.
Às vezes não funciono direito.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Quem será o próximo?


17 mil bilhetes em menos de seis horas, com tíquetes a US$ 150 no setor mais barato. Não é a Madonna, mas o combate de Oscar De La Hoya contra o filipino Manny Pacquiao, em Las Vegas, é, mantendo a analogia musical, a apresentação de um megastar em tempos de sucessos efêmeros e falta de ídolos. Aos 35 anos, De La Hoya está próximo da aposentadoria e não vê ninguém no esporte com o mesmo carisma.
Durante os anos 90, ele e Mike Tyson foram os grandes chamarizes de dinheiro/novos espectadores para o boxe, cada um a sua maneira e aparência (galã x brucutu, bom-moço x maloqueiro). Na linguagem do economês, Tyson foi o bruto, montanha de grana que se formava em poucos minutos, num nocaute espetacular que não atrapalhava a madrugada de ninguém; Hoya ainda é o líquido, o sujeito que pensa no futuro do esporte, que exige do fã o entendimento e a apreciação da técnica. Não por acaso, Hoya trabalha também como empresário e afirma, em outras palavras, querer "salvar" o boxe, revelar os próximos astros. A luta acontece no sábado, à meia-noite, e passa na HBO.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O melhor do Brasil é o brasileiro



Cada um tem o Obama que merece.


Prefiro esse.

Enquanto isso, no buffet infantil...


PM encontra drogas em festa de traficante em Cabo Frio
JB Online

A patrulha também encontrou pão em padaria de português.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

MC Mimadinho


Existem três maneiras de você gostar de rap: Dr. Dre, Timbaland ou Kanye West. Comecei a ouvir o gênero com atenção em 1986 e confesso que foi o clipe de "Fuck with Dre Day" que me fez comprar CDs do gênero. Ok, já havia Run DMC e Public Enemy, mas aquela malaquice toda, a cara de pau e a caricatura da violência do Dre me divertiram muito. O rap da Califórnia me agrada mais do que o de Nova York, que é técnico, virtuoso, tradicional, cerebral... Me dê uma canção sobre maconha e biatches e já estou felizão. Bem, o Timba tem como mérito levar o gênero para as pistas de dança badaladas, o povo bonito e que curte a vida. Já o West... gosto de Late Registration mas não estou falando exatamente de música aqui. É que percebi que muito nego curte o cara por uma suposta "inteligência" ou nerdice, que faltaria no cenário. Coisa de identificação, saca? Se alguém desse trio tem bonequinhos de Star Wars, é o West, claro. Lembrei disso ao ler o post no www.oesquema.com.br/trabalhosujo, do chapa Matias, sobre o pití do babaca ao perder para o Justice na premiação da MTV européia. Gente com aquele queixo pra frente não me engana.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O irmão daquele cara

ainda na carona do Planeta Terra. Não faltaram comentários sobre o desempenho da repórter, mas, na boa?, isso me parece normal. Música pop no Brasil é coisa de especialista. E gente chata. Infelizmente. E ninguém parece ter se dado conta de como os irmãos Reid estão simpáticos - para o padrão Reid, é claro. William até comenta: "não sei se isso é uma pergunta, mas..." e fala genericamente sobre Psychocandy. Mais sobre William: é uma das figuras mais interessantes, reclusas e incompreendidas que o rock produziu. Dê uma olhada em trechos de algumas letras de sua autoria em Munki, por exemplo:

Elvis lives and Bob Dylan is dead
And OJ's wife's crawling back from the dead
Love is great
Oh yeah love is good
And my bed friend thinks that love is food

God is great
Oh yeah God is good
And my friend Ben thinks that beer is food ("Fizzy")

I love Beatle John
She loves Beatle Paul
We don't hate the rest
We can love them all
And the way I kissed has gone and messed my life ("I Can't Find the Time for Times")

Sem a música elas perdem a força, mas são belíssimos achados. Bem ali, no limite entre a genialidade e a debilidade. Pendendo para a segunda.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Jesus voltou


A palavra é ruim e nada rock'n'roll, mas o termo para o show do Jesus and Mary Chain no Planeta Terra é "digno". Parece coisa de quem apenas não fez feio, mas significa muito para uma banda identificada com os anos 80 e que pretende ir além da mera turnê de reunião. Ainda distante do classic rock de um Stones, ela trouxe um alento para quem viu suas apresentações no Brasil em 1990 - trintões e calvos como eu. Faz sentido ainda gostar da banda e esperar pelo novo disco. A postura quase antipática no palco (Jim agradeceu pelo menos três vezes, um recorde pessoal) não é marra de banda nova - ao contrário, casa muito bem com as marcas no rosto do vocalista e a pança de William. O "rock sorriso", das boas causas, que aperta a mão dos grandes líderes mundias não tem vez com a dupla. O pessimismo e a depressão junkie das letras (o nome da ótima caixa de raridades The Power of Negative Thinking é um achado) são convincentes. Nada de gracinhas, estripulias, sorrisos do tipo "veja como sou bacana com vocês" ou pulseirinhas coloridas de ONGs. O número de fãs do Offspring surpreendeu tanto quanto o cabelo ridículo de seu vocalista, mas a banda dos irmãos Reid certamente ajudou a vender um bocado de ingressos. Animal Collective? Pfffff.
A banda escolheu "Snakedriver" para abrir a apresentação. Se não foi um hit em seu tempo, tem um clima bem adequado para separar o que havia sido Mallu Magalhães no palco (um festival de música do colégio Objetivo?) do que seria um show de rock amargo, sem tchubaruba. "Head On" também funcionou ao vivo e tem a aprovação dos Pixies, o que ajuda bastante entre o público indie brasileiro. Mas incluir mais três músicas do mediano Automatic ("Between Planets", "Halfway to Crazy" e "Blues from a Gun") foi um despropósito. A possível explicação é o fato de o show em 90 ter sido parte da turnê do albúm. Psychocandy foi quase ignorado ("Just Like Honey" era uma aposta óbvia, "You Trip Me Up" e "Never Understand" mereciam lugar no set list), "April Skies" não deu as caras e a pegada mais dançante de Honey's Dead foi privilegiada, inclusive no single "Sidewalking". Do álbum Munki (que coloco em segundo lugar em qualidade na discografia do Jesus) veio "Cracking Up". Entre as novas, "All Things Must Pass" se confirmou fraca, arrastada; "Kennedy's Song" é bem mais interessante e dá esperanças de um novo disco longe do vergonhoso. O volume estava baixo, especialmente no início do show, o que tirou bastante de seu impacto, mas era fácil conseguir um bom lugar para vê-lo. Com relação ao telão, nada a reclamar no quesito tecnologia. A falha foi humana mesmo: a equipe do Terra simplesmente ignorou William Reid, posicionado no canto direito de quem assistia. A bela foto do post é do camarada Marcos Hermes.
Se teve nostalgia? Mas é claro que sim. A memória afetiva é um seguro de vida para a música pop e uma bela aposentadoria para seus artistas. E confesso ter visto o show na condição de fã - afinal, não estava lá a trabalho. Esteja atrás de uns trocados ou de uma chance de terminar a carreira de modo menos traumático (difícil imaginar que eles gravem mais dois ou três discos de inéditas), o Jesus provou que sua obra é consistente e relevante para além de Psychocandy - no outro "extremo", eles lançaram o ótimo Munki. Nada de novos arranjos, um teclado para fazer a "cama", backing vocals (ei, ver a Scarlett Johanson não seria nada mal!), improvisos, "inteligência" e erudição. A urgência que a banda evocava em 1984 foi ganhando amargor e pessimismo. O Jesus cresceu com seu público, ainda busca por redenção e produz bem a partir de poucos recursos e limitações técnicas.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Panacea para os nossos males


Não me parece a melhor das decisões contracenar com a Demi Moore logo após sair de uma clínica para compulsivos sexuais. É isto que David Duchovny vai fazer nas filmagens de "The Joneses". Ficaria feliz se o personagem Hank Moody, do seriado "Californication", estivesse no comando da vida do ator, mas creio que sua internação tem mais a ver com a vontade de sua esposa do que daquilo que está no meio de suas pernas. Entre as celebridades é assim: deu vexame numa festa? Você tem problemas com álcool. Rehab. Traiu a patroa? Você é um compulsivo sexual. Rehab. Tratar (e deixar ser tratado) como doente quem pula a cerca é, em princípio, bem cômodo para ambas as partes. As mulheres podem argumentar que somente uma anomalia é capaz de fazer seu homem procurar outra. Mas vai questionar se um pouquinho daquela compulsão não poderia ser cultivada em uma estufa ao lado do bidê, para momentos adequados, em vez de ser "tratada". Os homens ganham o perdão da cônjuge, porém serão para sempre vistos como tarados pelas amigas dela - fora que é humilhante assumir aos pares que você deu um créu fora do matrimônio porque é um doente e não, simplesmente, porque é um homem. Isto me lembra um quadro da TV Pirata (não estou certo disso) em que um decorador colocava o marido como uma luminária de canto de sala, pois a presença masculina tornava impraticável o ambiente chique e de bom gosto desejado pela esposa. Os homens são todos iguais, inconvenientes, brutos, cafajestes. Alguns se tratam. Ficam diferentes. Como... luminárias.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O mercado que se foda


Nunca faltou sagacidade nos títulos de filmes pornô. Do clássico "Senta no Meu que Eu Entro na Sua" (uma pornochanchada, na verdade) ao "Fiz Pornô... Continuo Virgem" dá para se divertir com o gênero apenas olhando as capas dos DVDs na seção específica das locadoras. Pensei nisso hoje, ao perder o coquetel de lançamento do último título, estrelado por Caroline Miranda - o não-gancho jornalístico deste texto. A mesma empresa, a Sexxxy World ainda tem o "Foda de Elite", vai vendo...(no link no fim do texto)

Mas nem tudo é gozado no universo do entretenimento adulto. A Buttman, uma das maiores produtoras americanas, simplesmente faliu no Brasil. O mercado reclama da pirataria - e certamente nenhuma associação bancada pela indústria fonográfica comprou a causa do pornô. Se a questão dos direitos autorais de nossos queridos roqueiros pode nos sensibilizar, em relação aos atores e atrizes pornôs você quer simplesmente que eles se fodam. A direção sentido "celebridades" que o segmento tomou pode ser interpretada como uma manobra para ganhar mídia espontânea - o Superpop é um caso à parte, sendo travesti ou cachorra do funk anônimas já está valendo. Ou, simplesmente, que não há vagas na "Malhação" para tantas atrizes - se bem que o caminho inverso, da "Malhação" para o pornô, seja mais curto do que se pensa. (Atualizando, o vídeo com Frota e Cadillac, gravado em 2006, vai ser lançado agora - consumidores podem sofrer de precocidade ejaculatória; o mercado, não.)
Enquanto o mercado vive sua pior crise, a única certeza é que nunca houve tanta gente vendo pornografia como agora. Também neste aspecto, sexo e rock'n'roll caminham juntos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Insônia produtiva

Observando um clipe agora a pouco (sete da matina) do Gogol Bordello, me occorreu o seguinte: o punk foi o gênero que melhor contribuiu com outros ritmos - e, consequentemente, com o pop em geral. Heavy metal sinfônico? Esqueça. O rap se fundiu ao jazz e ao funk, mas nenhum dos dois precisou dele para ganhar popularidade e relevância mundiais. Ouvindo Gogol, Pogues e Mano Negra, bandas irmãs, dá para notar como a virilidade do punk trouxe para a esfera pop ritmos tradicionais da Europa e das Américas que, fatalmente, sumiriam ou ficariam restritos a vilarejos. Da música cigana ao folk irlandês, passando por ritmos celtas e cumbias, o punk atualizou suas características e os fez interessantes e dotados de sentido para uma nova geração. Com mais dentes na boca e muito menos álcool na cabeça, o líder do Gogol pode repetir a empatia que Manu Chao teve com o Brasil. O Pogues não vem para o Tim (é um delírio, isso?), mas está em turnê pela Europa. Com uma hipotética volta do Mano Negra, daria para agilizar a uma turnê do tipo 'Anarquia no Terceiro Mundo' ou uma compilação com a cara da Island nos anos 80. O melhor é que o fator punk evita que tais fusões fiquem "bonitas" ou de "bom gosto" ou "inteligentes". Ele sempre diz mais sobre transpiração do que reflexão.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quem é essa garota?


Mallu Magalhães? É melhor ler sob a assinatura do Arnaldo Branco (http://www.oesquema.com.br/mauhumor). Essa história de todo mundo torcendo a favor , como ele afirma, é muito ruim para o futuro dela - já li coisas como "(Mallu) desafina horrores, mas convence". Uma garota que começa aos 14 tocando Dylan e Cash só pode regredir, para ser otimista e não entrar no mérito do que esses artistas realmente significam em seu mundo adolescente. Escapismo é pouco e, na boa, sou mais achar Sid Vicious e Keith Richards "os caras" quando as espinhas te fazem companhia. É por aí, do zero, do rompimento ilusório com o mundo adulto e intelectualizado, que Mallu poderia construir uma personalidade forte que aguentasse o baque que vem a seguir, quando finalmente se der conta que o hype foi longe demais (vide Planeta Terra). Mallu tem pela frente somente a frustração de nunca se igualar a seus ídolos. Com o agravante de ter a cinta imaginária do pai para lhe açoitar. Há uma identificação neurótica de parte da crítica musical com ela. Essas lacunas que os jornalistas precisam preencher vão fazer mal à carreira da garota. Não precisamos de uma Cat Power, certo?

sábado, 13 de setembro de 2008

Fúria


Se tornou um hábito: sempre que bebo com o Ricardo Perrone, da Folha, brindamos com a frase "To all my friends". Um hábito frequente, diga-se. A citação é do filme Barfly, que o convenci de ver em um cinema que ficava na Brigadeiro Luis Antônio, quase na Paulista, ao lado do lendário Sandália de Prata. Roteiro baseado na obra de Bukowski, Mickey Rourke como protagonista e Faye Dunaway ainda com um belo par de pernas. Perfeito para aquele 1987. Saimos direto da sala - até porque Perrone quebrou a cadeira (era um extra-large na época) - e atravessamos a rua até o Annabelle para tomar uns chopes. Era irresistível ver o filme e encher a cara em seguida. Fiz isso algumas vezes. Isso diz respeito tanto pela atuação de Rourke como pela nossa sede insaciável - e a bebida sempre foi a razão de nossa amizade, sei disso.
Contudo, a embriaguês do personagem invadiu a carreira do ator, que se submeteu a filmes horroroso e situações vexaminosas (pô, o cara toma um pau do Van Damme no filme a Colônia! Esse vídeo http://www.youtube.com/watch?v=eC_YVUN_SvM mostra uma festinha do elenco - Rourke diz que o lutador é melhor que De Niro e, aos 2:40 minutos, é beijado na boca por Van Damme! Deus do céu!). Tentei preservar ao máximo sua atuação em Rumble Fish, meu filme favorito, na memória e dei por encerrada sua participação na minha vida. Até que o cara reaparece no Festival de Veneza. No início, seu rosto aparecia em sites e jornais como uma piada, como "o gostosão de 9 e 1/2 Semanas de Amor de ficou horroroso depois de fazer plásticas". Pouco depois, ele era a manchete da Ilustrada, na reportagem do Ivan Finotti. Ele atribuia seu "afastamento" de Hollywood à "fúria".
Algumas de suas lutas estão disponíveis no YouTube - nenhuma memorável. Mas sua história como pugilista é bem interessante. Treinou na mesma academia de Muhammad Ali, na mesma época, e fez sparring com Thomas Hearns e Roberto 'Mano de Piedra' Duran, alguns dos maiores pegadores do esporte (veja no site http://news.bbc.co.uk/sport1/hi/boxing/4589951.stm).

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Questão de classe


Vi ontem (9), no site do Matias (www.oesquema.com.br/trabalhosujo), o... err... episódio Ed Motta, Frejat, Álvaro Pereira - calma, como se não bastasse tudo aconteceu no programa do Serginho Groisman. Fiquei tão perdido que pedi ajuda para o elefante cor-de-rosa que estava passando na redação. Aí, o Ricardo Alexandre (www.causapropria.com.br) tratou do assunto. Entendi, mas confesso que fiquei ainda mais triste por ter trabalhado com essa classe. Me senti um violador de cadáver. Bizz, descanse em paz e nos perdoe por tudo.

domingo, 7 de setembro de 2008

Um grande garoto




Hoje (7/9) começou a exposição do fotógrafo Thomas Hoepker na Galeria Papparazi, cuja principal atração são as fotos de Muhammad Ali feitas em 1966 - no painel na Av. Pedroso de Moraes (a "galeria" fica na rua mesmo ou eu sou um ignorante?) está escrito 1976, o que não condiz com a imagem do pugilista. Nem cabe aqui falar da importância de Ali na história ocidental do século 20. O que chama a atenção é a relação entre ele e o fotógrafo, registrada em imagens que mostram a intimidade do "Maior de Todos". Nas fotos, ele parece apenas mais um esportista, carismático, de fato, mas sem a pompa e a valentia que costumava exibir em entrevistas da época. Fico pensando como foi para o alemão Hoepker lidar com os muçulmanos radicais que cercaram Ali assim que ele conquistou o título dos pesados - e se alguns assessores de artistas e personalidades de hoje não são piores que esses racistas às avessas, se é que esse conceito existe.
Cronistas especializados à parte - que ainda produzem textos e análises excelentes sobre o boxe (leia uma The Ring quando tiver oportunidade), foi Ali quem elevou o esporte à condição de arte e entretenimento para as "pessoas comuns". A plasticidade e dramaticidade do pugilismo encontraram nele o canal perfeito. E chega a ser surpreendente como alguém que foi extremamente controverso em sua época, hoje seja reconhecido como uma das figuras mais queridas e extraordinárias ainda vivas. Instintivamente, ele construiu uma persona pop inigualável, quando o pop ainda usava franjinhas à Beatles. As imagens que você vê aqui foram reproduzidas pela Kátia Zanardo.

P.S.: Críticas ao boxe nunca vão faltar. O mal de Parkinson que Ali sofre seria (pode ser que seja) uma consequência da brutalidade enfrentada no ringue - e quem assistiu ao terceiro combate entre Ali e Frazier presenciou um nível extra de brutalidade. Mas o boxe (ainda) não perdeu um Ayrton Senna ou desfigurou um Niki Lauda.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Nossa linda juventude


Agora que estou mais para os 40 do que para os 30, já não faço parte do rebanho usado como bode expiatório da moralidade: a juventude. Enquanto ensaio o que dizer sobre a lei seca - e outras restrições - sugiro o texto do Josimar Melo. http://josimarmelo.blog.uol.com.br/. Vou tomar uma e já volto - a pé, xiitas.
Arrout! Desculpem pela demora e a falta de educação - ensino básico no EEPG Ludovina Credídio Peixoto deu nisso. Hoje, foi a vez de Dráuzio Varela falar e defender a Lei Seca. Ao menos afirmou (o termo ganha até uma conotação de confissão nesses tempos de patrulha) que gosta de tomar sua cachaça antes do almoço. Mas, segundo acredita, se ao menos uma vida for salva pela Lei, ela é justificada. Fico imaginando como ficariam os sadomasoquistas se a morte do vocalista do INXS gerasse uma Lei da Seca - punheta, só com cinto de segurança ou no táxi, sei lá. É como eu digo, o bêbado amador custa caro ao profissional. Além de batucarem nas mesas, vomitarem nos banheiros e perturbarem a desordem pública do bar (onde o anarquismo pode dar certo), agora acabaram com a possibilidade de tomar uma (ou umas, afinal eram dois chopes na conta do Detran) antes de dirigir. O que, é bom frisar, não é nenhum prazer. O que faltava não era responsabilidade, era fiscalização.
Por que não, para variar, fazer um conjunto de medidas junto com a Lei? Ok, é mais rígida, então que se crie opções. Fim da bandeira dois nos táxis, por exemplo (a clientela vai aumentar, portanto os taxistas não saem perdendo). Vans oficiais de madrugada (frentes de trabalho!) e metrô até pelo menos 1 da manhã. Incentivo para o desenvolvimento de cerveja decente sem álcool. Ou tudo não passa de um ato moralista contra a eterna inimiga da sociedade: a juventude. E nem adianta subir no ringue contra ela. Cada vez mais estendida, a categoria tem toda a pinta de virar os latinos dos Estados Unidos. A maior minoria do pedaço.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

É do Karalho



Quando o chapa Ricardo Alexandre (www.causapropria.blogspot.com) terminou o livro Dias de Luta disse, numa daquelas previsíveis tardes em que não sabíamos se a Bizz ia continuar a circular, que sua banda favorita dos anos 80 era a João Penca e Seus Miquinhos Amestrados. Desconfei que fosse um truque esperto, uma maneira de não se comprometer com a "década perdida" e suas bandas que copiavam o rock inglês - o que nem era demérito, ou você acha que um grupo de samba japonês vai criar do nada seu telecoteco? É recurso jornalístico apelar para o esculacho. Mas a verdade é que ele realmente conhecia as músicas e os causos do grupo. Isso me fez pensar em qual seria o meu "mico" da época. Gostei da Blitz (tinha 11 anos), do RPM (uns 13), dos Inocentes e da Patife Band (14), mas nenhum sob uma "perspectiva histórica".
Mais tarde, observando as fotos do Edu K na Austrália, em seu MySpace, me ocorreu que o DeFalla foi a banda mais interessante daquela década. Num tempo em que ainda se dava importância para guetos e tribos, a banda gaúcha utilizava zilhões de referências, do pós-punk ao hip hop, surpreendendo e até desagradando muitas pessoas. E esse é um ponto importante: se havia quem lutasse contra o sistema ou as gravadoras ou as rádios, o DeFalla atacava seu próprio fã, era contra o próprio público. Não lembro de outra banda que tivesse feito isso. Bem lembrou o Zé Flávio: no show de reunião em 2006, com Biba Meira na bateria e Flu no baixo, Edu K disse que finalmente estava vendo os fãs da banda felizes, afinal estavam ouvindo os clássicos. Diferente dos shows "normais" (com Edu no palco isso não acontece. Ponto), em que o repertório era totalmente estranho ao disco que estava nas lojas. O grupo sempre esteve dois passos à frente dos colegas conterrâneos - e um atrás dos gringos - em apontar as tendências. E tudo com um humor sádico e escroto que, não tenho como teorizar muito - é pura sensação -, remete aos Mutantes. E hoje, o Edu K (e seus remixes, batidões, turnês no exterior e parcerias) é o único artista do rock brasileiro dos anos 80 que continua relevante e está conectado com a nova ordem musical. Falamos sobre isso no podcast Qualquer Coisa, do Zé e do Terron, mas não sei se durante a gravação ou nos "bastidores" (uma sala zoada com uma tábua de passar roupa como mesa não pode ser outra coisa que "bastidor". Mal aí, Terron.).

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ambição loira


"Ousada" e "polêmica" foram alguns dos adjetivos relacionados à performance de Madonna no Teatro Olympia, em Paris. A artista deu um beijo na boca de uma dançarina de seu show. Ahã. Sou mais a Leila Lopes fazendo pornô. Mais do que línguas se tocando (se elas se tocaram de fato), dá para ver a cantora agarrando, isso sim, o último toco de salvação. É uma corrida desesperada, contra o tempo (ela está à beira dos 50 anos), contra o declínio (Hard Candy é ruim), contra a irrelevância (megastars estão fora da nova ordem musical). O pior para ela foi sentar no trono pop há uns 15 anos atrás. Agora, coroada, resta-lhe mostrar o muque, dar cambalhotas, exibir a barriga chapada - não perder a majestade. "Eu ainda sou capaz", é o recado. Na verdade, ela ainda precisa que o mundo gire ao seu redor, a melhor reposição hormonal contra a depressão da meia-idade. E olhe que envelhecer é a única saída...
A parceira com Britney Spears fora esquisita, um gesto de humildade talvez, ou a sabedoria de que é preciso seguir as tendências. Agora, com Justin Timberlake (e Timbaland, e Pharrel...), Madonna está mais para a "alegria de viver" de uma Susana Viera. E se não fossem algumas questões "de pele", acredito que a Missy Elliott seria considerada mais relevante que Madonna. O fato da loira ter corrido somente agora atrás de Timbaland (que trabalha com Missy já faz um tempão), me faz imaginar se a rapper um dia vai aparecer todo moderna e faceira exibindo um olho roxo feito por Sean Penn. É ruim, hein?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Máximas de quem não dá a mínima

Sabe aquelas idéias brilhantes que você tem, depois esquece e se arrepende de não ter anotado? Pense no oposto. Inutilidades que você resolve disponibilizar para o mundo. Seja bem-vindo. Essa é a primeira compilação (sem essa de versão do diretor!) de 'Meu Pensamento Vivo', que estava alojado no meu MySpace. Se arrancar um 'haha', já estou no lucro.

- Pensar "glande" não faz, necessariamente, ninguém crescer.
- As maiores espinhas da adolescência são o medo e o tesão.
- O amor, sozinho, não coloca água no feijão.
- Deus é tarja preta.
- O balde na cabeça é a droga das crianças, mas a cola de sapateiro deixa tudo real demais.
- A fidelidade é a traição nossa, conosco, de cada dia.
- A tolerância não é renovável.
- O clichê é a hipérbole da verdade.
- A vida não possui saída de emergência.
- A felicidade é muito discreta pra se fazer notada.
- Só quem vive duas vezes possui coerência.
- O primeiro milhão está muito mais distante que o segundo.
- Tem caras que não valem nada, mas as garotas pagam um boquete pra eles.
- Quando nada dá certo, tudo pode dar errado.
- O ruim da morte é não poder fazer piada com o defunto.
- As feias que me desculpem, mas eu é que não vou ligar no dia seguinte.
- As drogas leves são porta de entrada para Jesus.
- É no casamento que a pornografia se revela.
- O sexo solitário pode ser uma ótima companhia.
- O bêbado amador custa muito ao profissional.
- Para algumas mulheres um jeans apertado é mais negócio que uma vaga de estacionamento idem.
- Seja viado, mas seja homem.
- Ser jovem é coisa do passado.
- Bar bom é bar ruim.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Divisão da dor

A dor é de cada um - e não de todo mundo. Populares cantam "Parabéns" para a garota morta. Mas são palmas para um defunto. As lágrimas pela garota morta, estas, não estão na tela da TV. O desfecho de qualquer coisa causa comoção: do final da novela, do BBB, do caso da garota morta. Uma pedra arremassada contra o casal, acerta o delegado. Página do orkut (acusado de favorecer a pedofilia neste país muito sério) sobre a garota morta, é exibida, bem como imagens dela dançando. Amiguinhos da garota morta falam da garota morta. "Ela era legal", diz um, cerca de cinco anos. Repórter bem mais velho do que isso acha que cumpriu sua missão. Não há notícia, só a expectativa pelo desfecho do caso da... vocês sabem. A garota morta faria aniversário hoje, e populares, entre eles um cover do Bin Laden, cantam "Parabéns" para um defunto. Pixadores escreviam "Justiça" no muro da casa do avô da garota morta quando a polícia os flagrou e os puniu. Justiça. Está tudo errado. Promessa de que "ela não será esquecida", conforta os populares. O medo de que a dor seja deles, faz com que tomem um naco da dor do outro. Mas a dor pela garota morta, esta, não está na tela da TV. Ela não é de todo mundo, diferente da garota morta que ganha palmas dos populares. O desfecho se aproxima. Parabéns para todo mundo. Pêsames para os que não estão na tela da TV e cuja dor, a intimidade negra de cada um, foi dividida.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Enquanto Jesus não volta


Fiquei sabendo pelo Alexandre Matias, que leu na coluna do Thiago Ney. Bem, todos os interessados sabem: é provável que o Jesus and Mary Chain retorne em novembro. Eu vi a banda em 1991, no Projeto SP - uma microfonia desgraçada, luzes estrobo irritantes e um clima de tensão entre os Reid. Um show do caralho, enfim. Fuçando no YouTube, encontrei essa apresentação em Oslo, no ano passado. A performance nem é grande coisa - e o local parece a Praça da República com gente também feia, mas daquele tipo meio desdentado, narigudo, loiro e sem vida comum na Europa. Mas tem algumas garotas meio caídas que tem o seu charme. Foda é o câmera insistir em dar closes no contrabaixo. Deus, no contrabaixo! Quem se importa? Vale pela qualidade da filmagem, que deve ter sido transmitida por alguma emissora de TV local.
- All Things Must Pass: melhor do que a participação no Letterman em maio de 2007.
http://www.youtube.com/watch?v=AkcPoy5Wvv8
- Blues for a Gun: aqui eles estão meio desanimados (o baterista parece eu no The Books, cansadão e à beira de perder o ritmo).
http://www.youtube.com/watch?v=VbD6SOd9QnU
- Head On: do irregular Automatic, salva pela cover dos Pixies. Eles erram na introdução, mas depois tudo se acerta. Mas a guitarra está baixa, baixa.
http://www.youtube.com/watch?v=EELlsjkeuvo&feature=related
Aí, a gente pensa: quem será o primeiro jornalista pentelho que vai falar da barriga do William? Que história é essa que gordura não tem nada a ver com rock? E o Elvis? Essa turma dos cadernos de cultura deve sentir um imenso prazer em esculachar a aparência de roqueiros de meia-idade. Só pode ser porque ela costuma ser feia e/ou freak pra cacete - fico imaginando alguns desses caras na adolescência.
E não esqueça que a TV é a imagem da Besta.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Viva la raza!


Coadjuvante é uma condição que sempre me interessou muito - bem como gênios que se acabam na bebida e nas drogas, mas isso eu supero. A possiblidade de dividir as glórias sem ter de dividir a responsabilidade me pareceu um caminho fácil e justo devido à minha preguiça e, principalmente, minha auto-estima de rodapé. (Não vou falar no Robin, obviamente).
Sem efeméride nenhuma, afinal isso é um blog, o assunto é Oscar Zeta Acosta, o "Dr. Gonzo" de Medo e Delírio em Las Vegas. Lendo um pouco mais sobre sua vida, descobri um personagem ainda mais fascinante do que o interpretado por Benicio del Toro no filme de Terry Gillan. Advogado, ativista social e escritor (autor de pelo menos dois bons livros sobre a condição dos chicanos nos Estados Unidos, Autobiography of a Brown Buffalo, de 1972, e The Revolt of the Cockrouch People, de 73), Acosta foi fundamental para que Hunter Thompson escrevesse sua mais famosa obra. Mas suas conexões com o pop vão além, mesmo que de forma indireta. Vejamos:
- Acosta foi um dos protagonistas da versão chicana da luta pelos direitos civis da década de 60 em East Los Angeles. Inspirado nos Black Panthers, grupos como os Brown Berets começaram a organizar a comunidade para se defender dos abusos e da brutalidade policial e lutar por melhorias na educação. Acosta, conhecido como o Brown Buffalo, estava no topo da pirâmide do "Chicano Movimiento" e, com os Berets, realizou o Chicano Moratorium, um protesto contra a grande presença e morte de compas na guerra do Vietnã. Durante esse episódio, o jornalista Ruben Salazar foi morto pela polícia e uma onda de violência cobriu o lado leste de Los Angeles. Atrás de informações sobre Salazar, Thompson chegou até Acosta para a feitura da reportagem que resultou no artigo "Strange Rumblings in Aztlan", publicada na Rolling Stone, que revelava os problemas que aconteciam no "barrio". Ciente de que o Buffalo não lhe revelaria nada ao lado de outros "pachucos" vingativos, Thompson sugeriu uma viagem a Las Vegas, onde poderiam conversar sem problemas. O resto, está no livro.
- Nesta reportagem da RS, Acosta aparece numa foto de Annie Leibovitz, famosa por clicar ícones do pop e do rock.
- A vida chicana dessa parte de Los Angeles seria muito bem retratada (e atualizada) no início dos anos 90, quando o rapper Kid Frost lançou East Side Story. Antes, ele havia lançado seu maior hit, "La Raza", que simboliza o "brown and proud" herdado dos anos 60 que fez a polícia considerar os Berets mais perigosos que os Panthers.
- Grande, gordo, forte, armado e drogado, Acosta dedicou a vida na defesa sem descanso de "la raza". O que diria da California Proposition 187, de 1994, que impedia imigrantes ilegais de receber benefícios sociais, saúde e educação pública? O então governador do Estado, Pete Wilson, que apoio a medida, foi "homenageado" pelo Brujeria no disco Raza Odiada.
- Acosta também foi retratado no cinema no filme Where the Buffalo Roam (1980), de Art Linson. Quem o interpretou foi Peter Boyle - Bill Murray ficou com o papel de Thompson.

P.S.: Acosta desapareceu em Mazatlan, no México, em 1974. Em seu último contato com a família, disse que iria embarcar num pequeno barco de volta aos EUA. Seu corpo nunca foi encontrado.

terça-feira, 11 de março de 2008

Basta ter grife para ter cacife


Notícia velha é que nem pizza - fica mais saborosa no dia seguinte. Segundo a colunista Mônica Bergamo (no dia 1 de março), o Cirque du Soleil pagou uma pechincha para sentar acampamento no Parque Villa-Lobos. Economizou, em comparação com a "tabela" do parque do Carmo, algo em torno de R$ 2 milhões. Fosse armar sua tenda no Ibirapuera, gastaria mais de R$ 3 milhões de diferença. A previsão oficial dos circenses era de arrecadar R$ 55 milhões, com uma mentalidade que só pode ser a do "pão de ló e circo". Mas, beleza, o circo deve "agregar valor" ou coisa do tipo. Dizia Marcelo Mirisola que basta um verniz para ser feliz. Iria mais longe: basta ter grife para ter cacife. O Soleil tem aquilo que os paulistanos-leitores-da-Veja-que-não-dão-passagem-ao-entrar-na-garagem-de-seus-prédios mais prezam: prestígio (marketing? É até bizarro pensar que tudo começou com um maleta artista de rua. Acorda, Vila Madalena!). É como o Blue Man Group ou os personagens de Tim Burton: algo de bom gosto, bonito esteticamente, bem feito, mas vazio, vazio... Mas é na superfície que os paulistanos nadam - mantendo aquela distância ridícula do Corolla da frente. Porém, se não vemos a criançada com a cara pintada de azul ou trajada de gótica por aí, o Soleil é uma grande fonte de inspiração para todas as classes sociais, principalmente as mais baixas. Por aqui não faltam malabaristas de farol. "Alegriaaaaa! Dá uma moedinha, tio!" Coitadinho do Circo Imperial da China (tsc, tsc, desperdício de trocadilho com "negócio da China"...).

terça-feira, 4 de março de 2008

Só a derrota liberta

A vontade era dizer simplesmente "chega", "volte pra sala", "me deixe", mas ela continuava com aquela bucha, esfregando, esfregando, reclamando, reclamando, com razão, quem diria o contrário? Viver na sujeira não é nada - acordar sujo é que é o portal. Depois disso não é necessário mais nada, já se safou, já se bandeou pro lado de lá.
A luta, essa tal batalha da vida, esse hei de vencer, essa carreira profissional, custam muito caro, meu caro. Enquanto meus pés eram esfregados pra que o lôdo saisse, não pensava em nada além de duas coisas: estava bem bêbado, decerto, mas nada tão embriagado assim dentro de minha bebedeira - o dia seguinte, se soubesse, que contasse outra. E que eram as pequenas coisas que acabavam com a gente. As grandes derrotas, as quedas trágicas, os tombos homéricos, esses tinham outra finalidade - a questão era escolher entre a pílula azul e a vermelha. As pequenas coisas, como que atacando Gulliver, eram as que nos amarravam, saqueavam, pisoteavam. Você ali, amarrado por dezenas de cordas rídiculas, de bunda pra cima, exposto ao patético, pronto pra desistir na hora errada. Porque só a derrota liberta.
Você fica pelo caminho, comendo poeira, desconcertado, e daqui a pouco está só, livre de todos eles. Assim, quase sem esforço - só perdendo. Colocar a agulha é que é o foda. Depois, nirvana. Alienação, como se não fosse legítima. A vida são escolhas, então a mais sensata para mim era a carta que ninguém queria, o mico.
Sem trabalho o povo se preocupa e se agita e se mata e chora e brocha e procura reverter a situação a qualquer custo - a tristeza que é um novo trabalho. O elogio, a responsabilidade, o cafezinho, a secretária, a porra do casual day, a festa da firma, a gostosa, o babaca, o prazo, o bom dia... Pro diabo! Nunca me encaixara nisso, como uma peça cega de Lego, que enganou um bocado deles por muito mais tempo que achava possível, e poderia até mais do que isso se eu simplesmente não quisesse largar os pontos ali, com aquela garota fazendo um lava pés num santo da puta que o pariu. Não querer crescer me parece um sentimento mais forte na infância do que o querer ser tal coisa ou tal pessoa. Um medo do caralho desse mundo adulto, desse mecanismo enferrujado, dessa roda viva que não iria fazer a mínima força pra agradar alguém. Aquela ingenuidade perigosa, que te faz correr no fio da navalha, sem saber onde diabos está todo mundo, que sombra é aquela no quarto, quando chega a porra do amanhã.
O tempo passou rápido, estava já naquela fase de reconhecimento, nome no cartão, sobrenome sendo pronunciado aqui e ali, com aquela garota me limpando. Tinha de lidar com tudo isso de alguma maneira, sair de cena não funcionaria, as latas de cerveja não ajudavam. Talvez fosse tarde para mim mandar tudo pros ares, é verdade - mas eu ainda ia fazer uma bagunça fudida por aí. Porque também não ia fazer a felicidade daquele que sempre me derrubou, criou obstáculos, rasgou meu estômago, colocou cacos de vidro na minha garganta: eu mesmo. Ia dar o troco, ah, isso ia. E dormiria mais uma vez com os pés limpos, como todos os filhos da puta de cobertor cobrindo as orelhas. (8/2/2008)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Quer pagar quanto?


Por ano, os sul-coreanos gastam 526 dólares por cabeça. Os brasileiros, meros 53 cada cabeça achatada. Que diferença, hein?! E não se trata de iguarias como insetos tostados, molho agridoce ou qualquer outro esteriotipo gastronônico que utilizamos para definir esses japas... Estamos falando de sexo - de sexo pago para ser exato. Mas aquele sem trocas de fluidos, feito no conforto do lar, na frente do computador, das revistas (aí é no desconforto do banheiro) e dos televisores - apesar da popularização das TVs de plasma. Uma pesquisa da empresa americana Internet Filter Review aponta o Brasil na quinta colocação, atrás dos campeões da modalidade "Punhos de Aço", os sul-coreanos, dos japoneses (ê japaiada!), dos finlandeses e dos australianos. Por conta dessa posição no ranking, a Playboy deve lançar o sexto canal adulto (como se a CNN fosse pra adolescentes) no país.
Bem, a notícia publicada na Folha deve ter esquecido de avisar que os Estados Unidos estavam fora da disputa. Afinal, a indústria pornográfica de lá só deve perder para a bélica - fazer amor sempre foi mais aterrorizante para os americanos do que fazer guerra. Até desconfio que a famosa foto da menina vietnamita correndo cause mais desconforto no mundo politicamente correto de hoje por causa do corpo desnudo do que pelas queimaduras. Mas o futuro só ao Brasil pertence, então falemos de nós, abençoados por Deus e bonitos por natureza.
Sexo por aqui é uma coisa "muito natural", que "acontece", que "não é o mais importante na relação", que "faz parte", que "precisa ser feito com amor". Ah, vá?! Os gringos, enganados pela promessa de tour pelas alcovas tupiniquins, descobrem rapidinho os caminhos para as termas, os puteiros, as casas de tolerância, de burlesco ou seja o que for, para sentir o sabor nacional. E ainda tem aquelas amigas que acham os europeus mais maduros ou menos machistas do que os pobres brasileiros sem dinheiro.
Sexo pago, a negociata por excelência, ali, no cash, a título de satisfação garantida - ou fingida, dá na mesma - é nojento para certas mulheres. "Com tanta vagabunda querendo dar de graça por aí", se exaltam, fazem pouco caso. Mas se o mundo virou uma putaria, elas esquecem que as profissionais da picardia é que saem ganhando - literalmente. Pagou levou, sem nota, CCDA, três vias, imposto de renda, CPMF, oposição e situação brigando no Senado. Que mal há nisso? Sacanear é um esporte nacional, então a sacanagem é nosso cartão de visitas, a amarelinha que nos representa no campo, na cidade, nas planícies e no cerrado.
Pagar por sexo é como pagar por comida. Sua mãe pode fazer para você de graça, mas não fica bem marmanjo ficar encostado na velha. Às vezes é legal colocar a mesa no quintal.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tá russo!


Há quem considere o reinado de Mike Tyson como a mais espetacular fase do boxe peso-pesado. Concordo, mas em parte. Sim, suas lutas eram espetaculares, do tipo que monopolizam a atenção de todos, como o futebol na época da Copa do Mundo. Até a sua tia era capaz de puxar assunto sobre o mais novo nocaute de Tyson. Nesse aspecto, ele fez muito para o business do esporte. Mas a verdade é que, exceção de Holyfield (que não era um peso-pesado natural) e Michael Spinks (outro que subiu de categoria), ele não tinha grandes adversários pela frente. Não foi sua culpa, e ele desempenhou seu papel muito bem, mas é um fato que mancha seu currículo. Contudo, depois de Tyson, a categoria mais pesada do boxe ficou órfã de lutadores carismáticos. John Ruiz? Pffff.
Mas eis que se anuncia um novo tempo, apesar dos perigos (como diz a canção), para o topo da cadeia alimentar pugilística. E, ao abrir-se as cortinas, dá para notar que elas são de ferro. Pela unificação dos títulos, lutam nesse sábado, 23, Klitschko e Ibragimov (a HBO Plus irá transmitir), um ucrânio, o outro russo - ambos brancos, mas é bobagem entrar nessa questão racial, até porque acho difícil os americanos definirem um lutador vindo da ex-União Soviética como "a grande esperança branca". Essa mudança de paradigma - essa palavra, mesmo usada de forma errada, dá uma credibilidade, não é? - me lembra uma passagem do livro Corpo & Alma, do antropólogo francês Loïc Wacquant, em que ele conta a teoria de um treinador chamado Dee Dee: "para saber quem está por baixo na sociedade, você tem de ver o boxe. Os mexicanos agora (era o começo da década de 90) tem a vida mais dura que os negros". Vale lembrar que os irlandeses e os judeus tiveram seus momentos de destaque no esporte na primeira metade do século passado. Não que Klitschko e Ibragimov lutem para aplacar a fome e sair da miséira, mas sempre há um elemento de marginalidade no boxe - talvez por isso a classe média alta prefira o jiu-jitsu, afinal levar socos na cara não é fácil, pior ainda para quem se acostumou a ter de tudo, inclusive um narcisismo desconcertante.
P.S.: outro lutador russo, Nikolai Valvev, conquistou o título da AMB em dezembro de 2005 justamente lutando contra o "latino" Ruiz. No aspecto físico, com 2,13 metros, é um grande lutador - ou vice-versa.
Ibragimov contra o mexicano Javier Mora: http://www.youtube.com/watch?v=57GcuAQdcCc
Dá uma olhada no "pequeno" Valvev, perdendo o título da AMB, em abril de 2007, para Ruslan Chagaev, do Uzbequistão (olha eles aí, Rocky!): http://www.weshow.com/br/p/25450/disputa_entre_valuev_e_chagaev_russ

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ternura, jamás!

O clichê, essa hipérbole da verdade, diz que o povo precisa/quer/merece pão e circo. Consequentemente, um governo totalitário ou retrógrado também precisa de pão e circo, mas para vender no atacado, não para consumo. Pois para os cubanos só sobrou o picadeiro. Sentir-se bem nas ruas de Havana é um exercício de controle dos nervos - existe um ar de ameaça, de finitude, de esgotamento que transforma suas férias em uma experiência. O centro velho, ainda que anuncie a restauração promovida pelo governo espanhol, causa má impressão até mesmo em quem já passou pelos piores quarteiros do Brás. Cortiços mal iluminados, lixo pelas ruas, monte de gente sentada na sarjeta - e estamos na parte turística da cidade. O alívio aparece quando você percebe que turistas italianos e canadenses, platinados, alienados e estapafurdiamente ingênuos, passam aqui ali. "Se eles podem, o que iriam fazer comigo?", sua massa cinzenta brasileira raciocina. A situação econômica na época em que lá estive, em 2004, separava ainda mais turistas e locais - a dolarização humilhava ainda mais os cubanos.
Como todo mito, o do "bom selvagem" existe para ser questionado. Em Cuba, nem precisa. Um povo amistoso não significa um povo amigável. Aquela "alegria" tropical que nos é vendida - e que vendemos aqui do nosso lado da fronteira - simplesmente se fora com a mesma velocidade do furacão que passara uma semana antes de minha chegada - e que me mandou pro Caesar Park do Panamá, mas isso é outra história. Não havia mais forças nem para esboçar um sorriso. Sabendo que você é um brasileiro, povo irmão e coisa e tal, o máximo que demonstravam era certo alívio. Num açougue, que mais parecia uma mecânica, nem um levantar de sombrancelhas para os brasileiros.
Não se falava de Fidel em nenhum momento. Não que el comandante fosse impopular - simplesmente não pronunciavam o seu nome. Com uma das mãos, seguravam o queixo e a escorregavam pra baixo, num gesto que sugeria uma barba. Os centros políticos presentes em quase todos os quarteirões podiam escutar qualquer lamúria. Sim, havia também pequenas clínicas espalhadas aqui e ali, mas "ficar em observação" não soava bem como um termo médico para aquelas pessoas. No Cerro, bairro que seria o Capão Redondo se esse fosse habitado por médicos, engenheiros e doutores dos mais variados títulos que ganham pouco mais de R$ 40 por mês, a revolução apenas endureceu o coração das pessoas.
A revolução de Fidel não foi para Cuba. Foi para ele mesmo. Tentou antes na Colômbia, tentou depois, em Angola. Deu certo em Cuba. Ele venceu. O isolamento a que esteve submetido nesses 49 anos apenas confirma seus propósitos. A população cubana era os outros, os camponeses que trabalhavam para o seu pai latifundiário. Ele lhes deu o que achava que devia, um pouco de colo, um pouco de saúde, um pouco de educação e um pouco de cadeia também. Todo o heroísmo que partiu de Sierra Maestra e derrubou Fulgêncio Batista foi sendo dilapidado nesses 49 anos. Pelo protagonista da história. Ele triunfou, entrou para a história. Cuba ficou para trás, no meio da fumaça de sua revolução.
E basta, porque já está parecendo um discurso do mito.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Fidelicious

Por que parou? Parou por quê? Breve algumas considerações sobre minha passagem por Cuba - com o Comandante no poder, é óbvio.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A bunda abunda


E o photoshop na bunda de Simone de Beauvoir? Quer coisa mais revolucionária? Ninguém escapa do zeitgeist, nem as feministas. OK, o povo tem poder, o sangue de Jesus também, mas a bunda é um imperativo desde sempre. Fico imaginando aqueles cafés parisienses apinhados de intelectuais, completamente tomados por câmeras de TV, como num Big Brother acadêmico. Quem vai debater com quem? Qual será a retórica? Que dialética vai ganhar as páginas da revista? Há uma corrente de pensamento (científica? palpiteira?) que diz que os intelectuais fazem menos sexo do que os pedreiros, por exemplo. Que desperdício! Não sei como são os andaimes de Paris, mas no Brasil, Simone ia ficar com ego ainda mais rechonchudo se passasse por uma obra. E ia pedir photoshop também nos seios, carentes de um bom sutiã - bem, hoje tem aquele que levanta qualquer glândula mamária. Que pena, Simone!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Salto no vácuo com joelhada

Ao contrário de Sawamu, nunca me julguei o demolidor - mas sempre mantive a crença de que era difícil de ser demolido. Até duas semanas, quando uma torção no joelho me levou ao chão. Senti o músculo saltar contra minha pele e (pode ter sido só impressão) ouvi um barulho nada agradável que meu cérebro interpretou como: fudeu. Distenção muscular, anti-inflamatório (combinado com cerveja, trouxa!), tensor no joelho, carnaval de rua (em Paraty, trouxa!!!) e logo mais, espero, tudo certo pra voltar a campo. Aprendi na marra que o tempo é implacável e que pessoas articuladas estão com tudo.