sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tá russo!


Há quem considere o reinado de Mike Tyson como a mais espetacular fase do boxe peso-pesado. Concordo, mas em parte. Sim, suas lutas eram espetaculares, do tipo que monopolizam a atenção de todos, como o futebol na época da Copa do Mundo. Até a sua tia era capaz de puxar assunto sobre o mais novo nocaute de Tyson. Nesse aspecto, ele fez muito para o business do esporte. Mas a verdade é que, exceção de Holyfield (que não era um peso-pesado natural) e Michael Spinks (outro que subiu de categoria), ele não tinha grandes adversários pela frente. Não foi sua culpa, e ele desempenhou seu papel muito bem, mas é um fato que mancha seu currículo. Contudo, depois de Tyson, a categoria mais pesada do boxe ficou órfã de lutadores carismáticos. John Ruiz? Pffff.
Mas eis que se anuncia um novo tempo, apesar dos perigos (como diz a canção), para o topo da cadeia alimentar pugilística. E, ao abrir-se as cortinas, dá para notar que elas são de ferro. Pela unificação dos títulos, lutam nesse sábado, 23, Klitschko e Ibragimov (a HBO Plus irá transmitir), um ucrânio, o outro russo - ambos brancos, mas é bobagem entrar nessa questão racial, até porque acho difícil os americanos definirem um lutador vindo da ex-União Soviética como "a grande esperança branca". Essa mudança de paradigma - essa palavra, mesmo usada de forma errada, dá uma credibilidade, não é? - me lembra uma passagem do livro Corpo & Alma, do antropólogo francês Loïc Wacquant, em que ele conta a teoria de um treinador chamado Dee Dee: "para saber quem está por baixo na sociedade, você tem de ver o boxe. Os mexicanos agora (era o começo da década de 90) tem a vida mais dura que os negros". Vale lembrar que os irlandeses e os judeus tiveram seus momentos de destaque no esporte na primeira metade do século passado. Não que Klitschko e Ibragimov lutem para aplacar a fome e sair da miséira, mas sempre há um elemento de marginalidade no boxe - talvez por isso a classe média alta prefira o jiu-jitsu, afinal levar socos na cara não é fácil, pior ainda para quem se acostumou a ter de tudo, inclusive um narcisismo desconcertante.
P.S.: outro lutador russo, Nikolai Valvev, conquistou o título da AMB em dezembro de 2005 justamente lutando contra o "latino" Ruiz. No aspecto físico, com 2,13 metros, é um grande lutador - ou vice-versa.
Ibragimov contra o mexicano Javier Mora: http://www.youtube.com/watch?v=57GcuAQdcCc
Dá uma olhada no "pequeno" Valvev, perdendo o título da AMB, em abril de 2007, para Ruslan Chagaev, do Uzbequistão (olha eles aí, Rocky!): http://www.weshow.com/br/p/25450/disputa_entre_valuev_e_chagaev_russ

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